domingo, 9 de maio de 2010

MARQUÊS DO PARANÁ – HONÓRIO HERMETO CARNEIRO LEÃO

Por Mauro Luiz Senra Fernandes





A Família Carneiro Leão é de origem portuguesa, da região do Porto, estabeleceu-se no Brasil na metade do século dezoito, principalmente em Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Para Pernambuco veio Manuel Netto Carneiro Leão e para Minas seu irmão Antônio Netto Carneiro Leão, que adquiriu datas de terra no então Arraial de São Luiz e Santana de Paracatu, para exploração de ouro e onde amealhou considerável fortuna. Pelos seus descendentes, doou seu sangue à nobiliarquia brasileira, com marquês e marquesa, viscondes e viscondessas, e barões e baronesas.

Nascido na Vila de Paracatu do Príncipe, em Jacuí, Minas Gerais, em 1801, Honório Hermeto Carneiro Leão era filho do militar Nicolau Antônio Carneiro e de Dona Joana Severina Augusta; neto paterno de Antônio Netto Carneiro Leão. De origem modesta, educou-se com a ajuda de parentes que, com muito custo, conseguiram mandá-lo para Portugal.

Em 1825, diplomado em Coimbra, desembarcou de volta para o Brasil, casando-se no ano seguinte. A esposa era uma prima, Maria Henriqueta Carneiro Leão, e o casamento – segundo o costume da época – havia sido arranjado pela família. Mas, é a partir desse casamento que a vida de Honório começou a mudar de rumo.

Maria Henriqueta deu ao primo e marido quatro filhos – Nicolau Netto Carneiro Leão - Barão de Santa Maria, Honório Hermeto Carneiro Leão Filho, Henrique Hermeto Carneiro Leão - Barão do Paraná, Maria Emília Carneiro Leão - Baronesa de São João de Icaraí e Maria Henriqueta Carneiro Leão - Viscondessa do Cruzeiro. Seu pai, João Neto Carneiro Leme, tio de Honório, era o “parente rico”, casado com Ana Maria Leme, natural do Tijuco, hoje Diamantina, dos Lemes de São Paulo. Antigo proprietário de uma empresa de beneficiamento de arroz no Rio de Janeiro, passou depois para um negócio mais lucrativo na época: comprava escravos negros no Cais de Valongo e ia revendê-los a preços bem mais altos pelo interior da Província do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Com isso, ampliou sua fortuna e, por ocasião do casamento da filha, era um homem riquíssimo.

O filhos -Nicolau Netto Carneiro Leão - Barão de Santa Maria
Henrique Hermeto Carneiro Leão - Barão do Paraná
 

 A filhas - Maria Henriqueta Carneiro Leão – Viscondessa do Cruzeiro, casada com Jerônimo José Teixeira Júnior – Visconde do Cruzeiro e Maria Emília Carneiro Leão - Baronesa de São João de Icaraí.
 O genro -  Visconde do Cruzeiro

Maria Januária Carneiro Leão Nabuco de Araújo e Joaquina Clara Carneiro Leão- netas do Marquês do Paraná,

No mesmo ano do seu casamento, Honório Hermeto foi nomeado Juiz de Direito em São Sebastião, no litoral paulista. Embora contrariado por ficar longe da Corte, seguiu para o posto, levando consigo a esposa e presentes do sogro: oito escravos, rica mobília e uma baixela de prata.

De gênio violento, logo se indispôs com uma autoridade militar em São Sebastião. Dois anos depois, em 1818, foi nomeado Ouvidor e, em 1829, promovido Desembargador da Relação na Bahia (com exercício no cargo na Corte), ocupando, ao mesmo tempo, o cargo de Auditor Geral da Marinha.

Seu prestígio na Corte era muito alto. Pertenceu a diversos gabinetes do Governo, foi Deputado Provincial, Senador e Ministro do Império, no Segundo Reinado, Presidente da província de Pernambuco, tendo sido contratador do casamento do Imperador Dom Pedro Segundo e de suas irmãs.

Honório Hermeto, que desde 1836 era fazendeiro de café no Vale do Paraíba e proprietário da Fazenda do Lordello, conhecida em Além Paraíba como Fazenda do Barão, em Jamapará, única fazenda em estilo mourisco no Brasil, foi grande responsável por uma política de favorecimento da agricultura, principalmente através da abertura e do melhoramento de estradas para o interior. Através de seu prestígio é que foi construída a ponte que liga Jamapará e Porto Novo, o que facilitou o escoamento da produção de café de Duas Barras, Sumidouro, Carmo e da própria Fazenda do Lordello para a Estação Ferroviária de Porto Novo que, até então, era feita através de barcos.

Segundo um dossiê datado de 31/07/1854, feito com o objetivo de historiar a origem de seus bens, o marquês do Paraná informa que, no final do ano de 1836, “realizou um sonho antigo, quando adquiriu terras incultas,à margem do Rio Paraíba do Sul, na fronteira com Minas Gerais, em Sapucaia (na época parte integrante do município de Magé), em lugar ainda pouco frequentado”. Nestas terras fundou a Fazenda de Lordello, que lhe custou na época quatro contos e quinhentos mil réis apenas. Mais tarde comprou novas glebas1, empregando em benfeitorias um total de dez contos de réis.

Honório Hermeto Carneiro Leão foi um dos homens mais influentes no cenário político do Império do Brasil.

Imperial sobre as origens de sua fortuna, o Marquês do Paraná esclareceu a seus pares que o seu segredo consistia na otimização da exploração do trabalho escravo. Assim, impunha metas altas, que determinavam grande carga de trabalho, porém a troco de premiação monetária.

Nos autos do inventário post mortem do Marquês, aberto em 1856, pode-se verificar que a fazenda contava com 190 escravos e uma plantação de 290.000 pés de café.

Após a morte do Marquês, aos 55 anos de idade, em 3 de setembro de 1856, a Fazenda do Lordello ficou para sua esposa, a Marquesa do Paraná, que administrou a fazenda até sua morte em 1887.
Em 1852 recebeu o título de Visconde e, em 1854, o de Marquês do Paraná. Faleceu em 3 de fevereiro de 1856, no Rio de Janeiro. Sua esposa, Dama Honorária de Sua Majestade a Imperatriz, foi com sua influência que terminou a construção da ponte que liga Jamapara e Porto Novo. A Marquesa do Paraná faleceu em 1872.

Em 1875, o Presidente da Província de Minas Gerais indenizou a Província do Rio de Janeiro, passando a referida ponte a pertencer à Província Mineira.

Seu filho, o médico Henrique Hermeto Carneiro Leão, titular do Império como Barão do Paraná, herdeiro da Fazenda do Lordello, foi um dos colaboradores na construção do Hospital São Salvador em Além Paraíba.
A Fazenda Lordello é uma das mais bonitas da região, foi construida na primeira metade do século XIX, em estilo mourisco pelo Marquês do Paraná, que no ano de 1841, adquiriu mais terras que faziam rumo com Lordello. Em 27 de março, o marquês do Paraná comprou do casal Manoel Antônio dos Santos e Maria Bernarda de Jesus mais uma porção; em 30 do mesmo mês, mais um tanto de D. Anna Victoria de Jesus; em 24 de maio, mais outra gleba de D. Constança Maria de Jesus e, finalmente, em 20 de marco de 1848, mais uma porção adquirida de Francisco José Soares e sua mulher D. Anna Umbelina Barbosa, completando assim uma área que correspondia, na época, a pouco mais que duas sesmarias de meia légua em quadra, ou seja, 500 alqueires geométricos de terra.
Mas sua localização perto da divisa fez com que sempre tivesse sua história ligada à Além Paraíba.
Atualmente, a Fazenda do Lordello serviu de cenário para a novela global "Irmãos Coragens" e o filme "Xangô de Baker Street".
 
 
 Jazigo do Marquês do Paraná no Cemitério do São João Batista no Rio de Janeiro

3 comentários:

  1. Caro amigo Mauro,

    permita-me parabenizá-lo pelo excelente texto e dizer-lhe que muito chamaram-me a atenção os dados detalhados, referentes aos preços de compra e à dimensão territorial da Fazenda do Lordello, além dos valores investidos pelo Marquês a título de benfeitorias e o total de pés de café, além da quantidade de escravos. Com estes dados é possível termos uma ideia, atual e contemporânea, do tamanho daquele patrimônio e dos respectivos rendimentos.

    Permita-me enriquecer seu texto com base em alguns números, baseados em um estudo histórico sobre 4 fortunas do Império (disponível no link: http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=56). Como valor médio atual do alqueire de terra, utilizarei um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas - FGV (disponível em: http://www.otempo.com.br/capa/economia/terras-em-mg-valorizam-mais-que-m%C3%A9dia-nacional-1.1005119).

    Como valor base, um conto de réis (1 milhão de réis), entre os anos de 1856 a 1862, comprava: 1 escravo ou 1 kg de ouro. Ou seja, cada escravo equivalia a 1 kg de ouro. Em valores atuais, o grama do ouro está cotado a R$ 140,30 (01/06/2016), o que significa R$ 140.300,00 cada kilo de ouro.

    Assim, temos os seguintes bens do Marquês do Paraná:

    1) Fazenda do Lordello (500 alqueires): R$ 884.100,00
    2) 190 escravos: R$ 26.657.000,00
    3) Benfeitorias (10 contos de réis): R$ 1.403.000,00
    4) 290 mil pés de café: R$ 1.337.625,00 (renda anual referente a cada safra)
    5) Título de Marquês: R$ 283.406,00

    Com base nos valores acima, teremos:

    PATRIMÔNIO MATERIAL TOTAL (terras, benfeitorias e escravos): R$ 28.944.100,00
    PATRIMÔNIO IMATERIAL (título de nobreza): R$ 283.406,00
    RENDIMENTO ANUAL TOTAL: R$ 1.337.625,00 (ou R$ 111.468,75 mensais).

    EM RESUMO: os números acima mostram que, tendo por base o patrimônio APENAS físico-material, o rendimento anual do Marquês do Paraná equivalia a 4,62% (curiosamente esta é a mesma taxa que, nos dias atuais, a "Fazenda Pública" - leia-se Governo Federal brasileiro, paga anualmente para todo brasileiro que investe seu dinheiro nos "Títulos da Dívida Pública", em valor já líquido de impostos e descontada a inflação).

    Deste modo, no passado, Fazendas Privadas, como a do Lordello, pagavam 4,62% aos seus nobres proprietários, valor idêntico ao que atualmente a Fazenda Pública paga a todo e qualquer brasileiro que investe seu dinheiro em Títulos da Dívida Pública (Tesouro Direto: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto).

    Um abraço!

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