segunda-feira, 20 de setembro de 2010

MANOEL ALVES GARCIA E A FAZENDA BOA VISTA EM SANTO ANTÔNIO DO AVENTUREIRO

Por Mauro Luiz Senra Fernandes




A corrida na grande área povoada pelos Puris surgiu a partir da primeira década do século dezenove, quando se irradiou o interesse pelas lavouras de café no Vale do Paraíba e, na Zona da Mata Mineira, os grandes senhores, vindos da zona da mineração da Província de Minas Gerais – São João Del Rey, Mariana, Congonhas, Barbacena, receberam sesmarias.
Grandes famílias se formaram desta busca pelas terras férteis do lado as Minas Gerais, povoando a larga faixa dos “Sertões do Leste”, e, das matas virgens surgiram grandes fazendas de café cujo esplendor, decantado por viajantes, deixou de brilhar quando faltou o braço valente do negro escravo.
Um desses corajosos e destemidos pioneiros foi Manoel Alves Garcia, que nasceu em Ibitipoca no ano de 1804 e faleceu em 19 de agosto de 1888, era filho de Manoel Alves Antunes e Maria Angélica de Santo Ignácio e neto materno de José Rodrigues Braga e Bernardina Caetana do Sacramento – tia do pioneiro Antônio Dutra Nicácio.
Casou-se no ano de 1830, com Bernardina Carolina de Jesus, nascida em Barbacena no ano de 1818 e era filha do Cel. João Ferreira da Fonseca e Josepha Maria de Assumpção.
De seu matrimônio, tiveram os seguintes filhos:
• Cândido Alves Garcia, faleceu criança;
• Elias Alves Garcia, batizado em 30 de julho de 1843 em São José de Além Paraíba, era fazendeiro em Santo Antônio do Aventureiro, foi casado com Mariana Antônia de Jesus;
• Carlos Alves Garcia, era fazendeiro em Santo Antônio do Aventureiro, casou-se no dia 1 de outubro de 1870, na Fazenda da Boa Vista, com Carlotta Carolina de Jesus, filha de Carlos José Ferreira e sua prima Carolina Maria de Jesus;
• José Alves Garcia, nascido em 1833;
• Honório Alves Garcia, fazendeiro em Santo Antônio do Aventureiro, nasceu no ano de 1835;
• Prudente Alves Garcia, fazendeiro em Santo Antônio do Aventureiro, nasceu em 1837 e casou-se com Maria Gertrudes dos Santos Garcia;
• Luiza Alves Garcia, nasceu na Fazenda da Boa Vista, casou-se em janeiro de 1875, com o Capitão José de Oliveira Senra, filho de Manoel de Oliveira Senra proprietário da Fazenda Vargem Grande do Rio Angu – em Monte Verde e Maria Luiza de Jesus.
O Capitão José de Oliveira Senra, foi proprietário da Fazenda Deus Proteja, em Santo Antônio do Aventureiro;
• Camilla Carolina de Jesus, casada com o primo Rodolpho Martins do Couto, proprietário da Fazenda Estrela, filho dos tios Antônio Martins do Couto e Maria Victória de Jesus;
• Josephina Carolina de Jesus casou-se no dia 1 de julho de 1871, com João Ferreira Martins, nascido e batizado na Capela do Curral Novo, filho de José Ferreira Martins e Eupharia Philomena de Jesus; e
• Cândida Carolina Alves Garcia, que nasceu em 1851, na Fazenda Boa Vista em Santo Antônio do Aventureiro, faleceu na Fazenda da Barra do Peixe em 1889 e foi a segunda esposa de seu tio Comendador Simplício José Ferreira da Fonseca.
Por influência da família de sua esposa, os Ferreira da Fonseca e Ferreira Armond, Manoel Alves Garcia veio para a região próxima de Além Paraíba e formou a prospera Fazenda da Boa Vista, localizada nas proximidades da Fazenda Barra do Peixe, que pertencia ao seu cunhado e mais tarde genro, o Comendador Simplício José Ferreira da Fonseca.
Alves Garcia passou alguns anos na vida árdua e braçal, acompanhado de seus escravos e outros empregados, derrubando matas, preparando os campos para o plantio, construindo as senzalas e o casario de serviço e tudo o que envolvia a implantação da “Boa Vista”.
As primeiras colheitas, cinco anos depois, asseguraram o empreendimento promissor e foi iniciada a construção do casarão para a moradia de sua família, e a capela onde a maioria dos filhos se casou. A grande fazenda, no início de sua formação, pertencia a Mar de Espanha, depois a Além Paraíba e atualmente a Santo Antônio do Aventureiro após sua emancipação política.

Fazenda Boa Vista em Santo Antônio do Aventureiro - MG

terça-feira, 14 de setembro de 2010

COMENDADOR ANTÔNIO CARLOS TEIXEIRA LEITE

Por: Mauro Luiz Senra Fernandes






Nascido em 26 de julho de 1810, no município mineiro de São João Del Rey e faleceu no dia 20 de outubro de 1877, no município fluminense de Vassouras.

Pertencente a uma família de abastados cafeicultores fluminense - da chamada aristocracia cafeeira do Vale do Paraíba, era filho de Francisco José Teixeira - Barão de Itambé e de Francisca Bernardina do Sacramento Leite Ribeiro (1781-1864).

Era neto paterno do Capitão Francisco José Teixeira e Anna Josepha de Souza Rios e era neto materno do Sargento-Mór José Leite Ribeiro e Escolástica Maria de Jesus Morais.

Casou-se em primeiro matrimônio com sua prima-irmã Mariana Jesuína Teixeira, filha de José Joaquim Teixeira e Mariana Osório Teixeira de Souza e teve uma filha com o nome de Guilhermina Teixeira Leite, que foi crismada em Angustura - Distrito de Além Paraíba, no dia 4 de setembro de 1843.


Como falecimento de sua primeira esposa, casou-se com sua cunhada e prima, Umbelina Cândida Teixeira, nascida em 1823 e faleceu em 1873.

De seu segundo matrimônio, tiveram os seguintes filhos: João Olimpio Teixeira Leite - faleceu solteiro; Antônio Carlos Teixeira Leite Filho, casado com Emiliana Diniz de Figueiredo Côrtes -
sem sucessão; Custódio Teixeira Leite Sobrinho, casado com a prima Francisca Brito Teixeira Leite; Umbelina Teixeira Leite – Baronesa de São Geraldo, casada com Joaquim José Álvares dos Santos Silva – Barão de São Geraldo, filho do Coronel Antonio Abreu e Silva e Virgínia Ribeiro de Avelar; Ernestina Teixeira Leite, casada com Alfredo Leite Ribeiro - sem sucessão; Carlos Alberto Teixeira Leite, casado com sua prima Mariana de Abreu Teixeira Leite; Jorge Luiz Teixeira Leite, casado com Júlia da Silva Teixeira Leite; e Luciano Arnaldo Teixeira Leite - faleceu solteiro.

 
 Francisco José Teixeira - Barão de Itambé e de Francisca Bernardina do Sacramento Leite Ribeiro
 
Fazenda do Pântano em Além Paraíba MG
Residência do Comendador Antônio Carlos Teixeira Leite na cidade de Vassouras RJ
 
 Documento pertencente ao Comendador Antônio Carlos Teixeira Leite

No ano de 1874, inaugurava-se a Estrada de Ferro Leopoldina, ligada à economia do café, em expansão a partir de meados do século XIX, a ferrovia nasceu da iniciativa de fazendeiros e comerciantes da Zona da Mata Mineira, acostumados a transportar a produção de café da maneira tradicional, por tropas de mulas, até os portos do litoral. No retorno, os tropeiros traziam produtos manufaturados e um dos principais financiadores da construção foi o Comendador Antônio Carlos Teixeira Leite.

Os trabalhos desenvolveram-se com rapidez, sendo esse trecho inaugurado em 8 de outubro de 1874, na presença do Imperador D. Pedro II e de autoridades civis e eclesiásticas. Este trecho contava com três estações - São José (São José d’Além Parahyba), no quilômetro 3, Pântano (atual Fernando Lobo), no quilômetro 12, e Volta Grande, no quilômetro 27 -, cinco locomotivas (duas Rogers, duas Baldwin e uma belga, batizadas de Visconde de Abaeté, Conselheiro Theodoro, Godoy, Cataguazes e Pomba), oito carros de passageiros e quarenta e oito vagões de carga.

Imperador Dom Pedro II na Estação de Porto Novo do Cunha - Minas Gerais
- óleo sobre tela de Andréa Senra Coutinho
 
Em Além Paraíba, o Comendador Antônio Carlos foi proprietário da Fazenda do Pântano, que mais tarde passou a pertencer ao seu genro Barão de São Geraldo, na atual localidade de Fernando Lobo. Em abril de 1881, a Fazenda do Pântano recebeu a ilustre visita do Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Thereza Cristina, quando estavam em viagem à Província de Minas Gerais.

A Estação do Pântano recebeu, futuramente, o nome de Antônio Carlos e, hoje, é chamada de Fernando Lobo.
 Estação do Pântano atual Fernando Lobo
Barão e Baronesa de São Geraldo
 Joaquim José Álvares dos Santos Silva – Barão de São Geraldo

Capela Nossa Senhora do Rosário do Pântano - completamente abandonada, esta situada na antiga Fazenda Pântano. Sua construção iniciou em 1876 com término em 1879.





quarta-feira, 8 de setembro de 2010

MIGUEL ANTÔNIO PAIVA - Um Padre Que Fundou Uma Cidade

Por Mauro Luiz Senra Fernandes




A imagem de São José de Botas do final do século dezoito, é um marco do povoamento de Além Paraíba


Formação do Arraial de São José da Parahyba

Desde os primórdios momentos da mineração aurífera, especialmente após a Guerra dos Emboabas – 1709, a entrada e saída na Zona da Mineração começaram a ser controladas. Ninguém entrava ou saía sem permissão das autoridades reais. Em seguida, a proibição de abertura de novos caminhos nas direções Lestes (região que se encontra Além Paraíba) e Oeste. Nos caminhos oficiais havia uma severa vigilância militar e burocrática. A Zona da Mata Leste constituía-se em uma verdadeira barreira natural. Era intransponível em face das próprias condições naturais e dos indígenas que atacavam pequenos grupos ou pessoas isoladas.

A região de Leopoldina e Além Paraíba era considerada o último refúgio dos puris escorraçados pelos mineradores.

As escassas publicações ou artigos de jornais que versaram sobre o assunto, deram ao padre Miguel Antônio de Paiva as honras de ter fundado o primitivo núcleo que se transformou na cidade de Além Paraíba.

Padre Paiva, como era conhecido; nasceu na Freguesia de Santa Maria, Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga – Portugal, filho de Manoel Antônio de Paiva e Maria Gonçalves, veio para o Rio de Janeiro onde foi ordenado presbítero.
Sua sesmaria, no “Sítio das Três Barras”, virando “Aventureiro”, cujo título data de 10 de dezembro de 1816, foi quase toda vendida, mais tarde, a Theodoro de Faria Salgado. Faleceu em outubro de 1826.

Conforme cita Falabella em “Os Sertões do Leste”, Padre Paiva deixou como herdeiro o Capitão Manoel de Almeida, contra quem Faria Salgado, em 1828, ajuizou uma questão judicial após seu falecimento.

Citam o Alferes Maximiano José Pereira de Souza (nascido em 1795) como tendo escolhido uma vargem para logradouro da Capela, perto das terras do Padre Paiva, em 1811, quando aquele Sacerdote sequer sonhava com a missão que lhe haveria de caber mais tarde.
Em 1816.quando o Padre Paiva aportou à margem do Rio Paraíba do Sul, já existia o Registro do Porto do Cunha, fundado em 1784 por Pedro Afonso Galvão de São Martinho, quando primeira diligência pelos “Sertões do Leste”.

Também, já existia o núcleo de povoamento em Porto Novo do Cunha que, hoje, como sabemos, constitui com Além Paraíba uma só cidade. Se o Padre baldeou-se para às margens do Rio Limoeiro, local menos endêmico, fê-lo porque, em 1812, o Revendo José Venâncio Ribeiro Filho, Vigário da Freguesia do Santíssimo Sacramento de Novas Minas de Cantagalo, por determinação do Bispo do Rio de Janeiro, já havia escolhido o terreno e erigido a cruz, demarcando o cemitério.

Na verdade, todavia, o Padre Miguel Antônio Paiva transformou-se numa figura lendária, vigário que foi da primeira Freguesia de São José da Parahyba, de 1818 à 1826.

O primeiro batizado feito pelo Padre Paiva deu-se a 26 de julho de 1818, na Fazenda Santana; o primeiro enterro, fê-lo de Felizarda Mina, escrava de Daniel Nunes de Montes, em 28 de setembro de 1818.
Foi numa vargem, distante três cordas e sete braças do Ribeirão do Limoeiro, a paragem escolhida para fixação do primitivo marco de medição e demarcação do quarto de terras que seria destinado ao logradouro da Freguesia de São José da Parahyba.

Padre Paiva pôs mão à obra e, no ano seguinte, fez erigir a ermita no local, onde havia um cruzeiro, nela colocado a imagem de São José, com a invocação de São José da Parahyba. Comprou de José Ângelo de Souza um outro terreno que mandou demarcar e medir judicialmente para patrimônio, cujos títulos forma registrados no Primeiro Tabelião de Barbacena, em 5 de janeiro de 1819.

Em 1835, ainda se erguia, à margem do Limoeiro, a Capela dos Índios – branca, simples, tendo em frente um pequeno cemitério, distante uns cem metros da casa onde residiu o Padre Paiva.
Parece não restar dúvida que Porto Novo nasceu antes de Além Paraíba.

A LENDA DO PADROEIRO

As lendas são para a história o que as flores são para vida: enfeitam-na. Embelezam-na. Dão-lhe matiz agradável, suave e pitoresco.

Em torno da imagem que Padre Miguel Antônio Paiva colocou na Capela dos Índios em 5 de janeiro de 1819, conforme seu próprio relato, formou-se uma lenda. A imagem existe, conservada na Igreja Matriz de São José em Além Paraíba.

Surgiu, pois, a lenda – fruto da crendice popular e sua simplicidade em explicar fatos não de todo esclarecidos.

A poesia do historiador alemparaibano Dr. Octacílio Coutinho traduziu o acontecimento – o achado do padroeiro e sua retirada das águas, da seguinte maneira:

O PADROEIRO



Diz à lenda que um dia, junto ao rio assentado,
Frei Miguel, mudo, sozinho, meditava preocupado.
Vez por outra a vista erguia, para o céu assim olhando,
Diz-se-ia que a Deus mesmo, algo estava perguntando.

Outras vezes à floresta, firme olhar endereçava,
Neste gesto de alguém, que uma coisa procurava.
Pensamento, longe, alheio, ao que existe neste mundo,
Absorto inteiramente, no cismar longo profundo.

Decisão muito importante, que tomar não decidia,
Quem si que mesmo o fervor, sua alma alivia.
- “Ó Senhor, a luz envia! Ó meu Deus, clareia a mente.
Que ajudar-me nessa hora, ó meu Pai, só tu somente!

Pois hesito, eu te confesso, e me perco e me confundo,
Aí de mim, um pobre cura, como tantos nesse mundo.
Pois prevejo que em torno, dessa igreja irá surgir,
Uma vila, uma cidade, e depressa progredir.

E desejo que ela fique, para sempre resguardada,
Sob o manto milagroso, de uma imagem abençoada.
Desventurado achar não posso, o padroeiro protetor,
Compaixão me ajuda agora, ó meu santo criador”.

Mal findara essa oração, Frei Miguel se aquietava,
E sentiu que a alma, enfim, duma angustia se livrava.
Algo então aconteceu, um milagre operou:
Eis que olhando o Paraíba, o coração quase parou.

Uma coisa, um objeto, lá nas águas distinguia,
O que era com certeza, o Vigário não sabia.
Mergulhou as mãos no rio, entre aflito e curioso,
Mui depressa retirando, o objeto precioso.

Só então se certificou, e sorriu feliz contente:
Deus lhe dava na verdade, um belíssimo presente.
A chorar ajoelhou-se, com a imagem abraçado,
Soluçando, ao rio, ao céu, enviou o seu “obrigado”.

Levantou-se. E a imagem fita, fato estranho logo nota,
Um perfeito São José, mas calçado com uma bota.
Respeitoso dá-lhe um beijo, e a venera humildemente,
Coloca-lo vai depois, na ermida piamente.

Vêm soldados, mercadores, vêm mulheres e o gentio,
A rezar aos pés da imagem, ofertada pelo rio.
São José d’Além Paraíba, logo foi denominado,
Padroeiro dessa terra, e por ela muito amado.



Fonte: "Os Sertões de Leste - Achegas para a história da Zona da Mata" - Celso Falabella de Figueiredo Castro