segunda-feira, 17 de maio de 2010

O TRANSPORTE URBANO EM ALÉM PARAÍBA - O BONDE DE TRAÇÃO ANIMAL

Por Mauro Luiz Senra Fernandes


Rua Barão de Guararema, em São José

O Transporte Urbano em Além Paraíba

“A partir de 1890, foi instalada uma linha de bondes puxados a burro que saía de Porto Novo do Cunha, passando pelas Oficinas (Vila Laroca) com destino a São José. Vinha catando gente pelas ruas que enchia seus bancos e pagando 400 réis pelo trajeto. Os burros iam puxando devagarinho o bonde pesado de passageiros. Na altura da Granja, o cocheiro do bonde fazia a cobrança dos passageiros e, lá, eram trocados por outra parelha (Esmeralda e a Berlinda eram trocadas pela Dindinha e Isolda) na volta para São José”.
Adaptação do texto de Nestório Valente no Jornal Além Parahyba - 1925

O Bonde de Tração Animal

Quando Além Paraíba não ostentava ainda magníficos palacetes, artísticas fachadas e redolentes jardins, quando casinholas trepavam pelas encostas íngremes da morraria, já o Comendador Affonso D’Ângelo Visconti, observando que os rudimentares veículos do Luca e do Fidelis, morosos e fatigantes, não satisfaziam a nossa população, se empenhava com ardor pela organização de uma empresa de transporte, o que conseguira, vencendo todas as dificuldades que só não estorvam ou entibiam os ânimos arrojados e resolutos.
Pioneiros em transporte coletivo Lucas e Fidelis que, em 1886, com seus parcos recursos, iniciaram neste ramo de negócio em Porto Novo do Cunha, através de desengonçados troles puxados a burro. Esses veículos rudimentares prestavam um serviço moroso e fatigante, já não satisfazendo àquela época a população. O Comendador D’Ângelo Visconti, homem inteligente e de muito tirocínio comercial, rico hoteleiro na cidade do Rio de Janeiro, e aqui também proprietário, espírito aventureiro e habilidoso aglutinador de interesses econômicos, partiu para a incorporação de uma empresa com a finalidade de modernizar aquele transporte. Chamou amigos, que sabia não temerem dificuldades, arrojados como ele, resolutos, e propôs-lhes o negócio. Entre estes, então, se encontrava o Felippe Bacelar Fontenelle.
Em 1889, Affonso D’Ângelo, sempre na vanguarda do movimento, fazia o seguinte apelo aos subscritores de ações:
“Empresa Ferro Carril Além Parahyba – pede-se aos senhores subscritos de ações, àqueles que ainda não entraram com as quantias subscritas para essa empresa, tenham a bondade de fazer o pagamento da primeira prestação de 10$000 por ação, na agência do Banco Territorial Mercantil de Minas, a fim de incorporar-se até 5 de novembro próximo a sociedade. São José de Além Parahyba, 26 de outubro de 1889 – Affonso d’Angelo – o incorporador.”
Naquele mesmo ano de 1889, no Paço da Câmara Municipal desta cidade e Comarca de Mar de Espanha, presentes os acionistas da empresa, Affonso D’Ângelo disse-lhes que havia convocado para constituição definitiva da Companhia, e lhes ofereceu os estatutos pelos quais essa deveria se reger. E ao apelo para elegerem os seus administradores, foram escolhidos os senhores Capitão Vicente Mendes Ferreira (Capitão Mendes), 355 votos; Dr. Joaquim Canuto de Figueiredo, 345 votos; Capitão Francisco Júlio dos Santos Sobrinho, 340 votos; Dr. Francisco Salles Marques, 40 votos; Antônio José Herdy, 35 votos; e Dr. Francisco B. Teixeira Duarte, 10 votos. Total de 1.125 votos.
Foram eleitos, pois, diretores da Ferro Carril os cidadãos Capitão Vicente Mendes Ferreira, Dr. Joaquim Canuto de Figueiredo e o Capitão Francisco Júlio dos Santos Sobrinho.
Aduzindo razões de escusas, pediram que a Assembléia os dispensasse desses cargos e agradeceram a confiança neles depositada os cidadãos Vicente Mendes Ferreira e Francisco Júlio dos Santos Sobrinho. Concedida as escusas, discursaram nessa ocasião os Drs. Canuto de Figueiredo e Luiz Barbosa da Gama Cerqueira, sendo, na mesma ocasião, eleitos membros da diretoria os Srs. Francisco Salles Marques, Antônio José Herdy e Francisco B. Teixeira Duarte.
Para presidente da assembléia geral foram eleitos o Capitão Vicente Mendes Ferreira e José Thomaz Pimentel Barbosa e, para secretários, o Dr. Luiz Barbosa da Gama Cerqueira e o Capitão Egydio Cezar F. Lobo.

Capitão Vicente Mendes Ferreira - maior acionista da Empresa Ferro Carril Além Parahyba

Os acionistas da Ferro Carril que mais títulos adquiriram foram os seguintes: Banco Territorial e Mercantil de Minas, 50 ações; Vicente Mendes Ferreira, 50 ações; Affonso D’Ângelo, 20 ações; Luiz Augusto Gomes, 20 ações; Cornélio G. Villela Bueno, 10 ações; Francisco B. T. Duarte, 10 ações; Francisco Cesário de F. Côrtes, 10 ações; Francisco de Assis Teixeira, 10 ações; Francisco Garcia da Rosa, 10 ações; Francisco Júlio dos Santos Sobrinho, 10 ações; Dr. Francisco P. Tavares, 10 ações, José Augusto de F. Côrtes, 10 ações; José Thomas P. Barbosa, 10 ações; Luiz Alves Banho, 10 ações; Luiz de Souza Breves Sobrinho, 10 ações; Manoel G. de F. Côrtes, 10 ações; Manoel J. Lopes de Almeida, 10 ações; Manoel Mattos Gonçalves, 10 ações; Marciano Teixeira Marinho, 10 ações; Mathilde Herdy de Oliveira, 10 ações; Miguel Laroca, 10 ações; Valeriano M. M. Costa Reis, 10 ações e Francisco L. dos Santos Werneck, 10 ações.
Soma: Ações 380 e entradas de 3:800$000.
Daí por diante a empresa passou por muitas alterações na sua estrutura. Foi encampada pelos senhores Mauricio Francisco de Souza, Miguel Laroca e Nicolau Taranto; retirando-se o Dr. Mauricio Francisco de Souza e Miguel Laroca, associando-se a Nicolau Taranto os senhores Herculano Couto e Severino Martins, e finalmente dissolvida, ficando seu ativo e passivo com o Capitão Nicolau Taranto até 13 de janeiro de 1923, data em que foi a empresa adquirida pelo sr. Adão Pereira de Araújo que resolveu transformar a tração animal em tração elétrica.
Adaptação do texto de Nestório Valente no Jornal Além Parahyba - 1925
O bairro operário das "Oficinas" - atual Vila Laroca. "Os bondes puxados a burro que saía de Porto Novo do Cunha, passando pelas Oficinas (Vila Laroca) com destino a São José..."

3 comentários:

  1. Dizer que você me faz ter orgulho de ser alemparaibana é bobagem. Sou suspeita pra isso, fã de carteirinha, talvez uma das fundadoras do fã-clube...rs.
    Acho que todos os alemparaibanos deveriam se orgulhar de ter um profissional como você, que nos presenteia com coisas belíssimas e de um cuidado que só você mesmo, zelando por nossa história.
    Obrigada mais uma vez, seu blog está de uma beleza ímpar, como tudo que faz.
    Beijo!

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  2. Estou há tempos procurando identificar os antepassados do Capitão Vicente Mendes Ferreira, para ver se existe alguma ligação com a família que eu pesquiso. Por acaso você, Mauro, saberia alguma coisa sobre ele?
    Eliane

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  3. Meu nome é Helio Dansa. Tenho 76 anos de idade, nascido na cidade do Rio de Janeiro; sou bisneto materno do Comendador Affonso D'Angelo Visconti, cujo filho Alberto, por ter-se casado com a caboclinha aos 17 anos foi deserdado. Tenho tudo documentado. Já não aspiro a bens materiais, mas estando a estudar minha herança genética, segundo a qual meu nome completo deveria ser
    Helio D'Angelo Visconti Dansa Prat, aceitaria trocar informações com alguém que possa confirmar ou refutar minha descendência materna, que remonta a Milão, onde um ascendente remoto administrou a construção do Duomo, tendo ganho por isso o título de visconde (ti ). Grato, HD

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