sábado, 19 de maio de 2012

MIGUEL MADEIRA UM PIONEIRO DO TRANSPORTE EM ANGUSTURA


Por Mauro Luiz Senra Fernandes





Triste para toda Angustura e muito mais triste para sua família, foi o alvorecer do dia 18 de janeiro de 1968. As vibrações sonoras e cadenciadas dos sinos da matriz despertaram Angustura e, seus moradores, em sobressaltos, pressurosos acorreram-se às janelas, entreolharam-se, perguntando: quem teria morrido? E os sinos continuavam lugubremente, seus dobres plangentes quando, feriu o espaço, quebrando monotonia cadente dos sinos – a saudação cristã “Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo” pelas ondas sonoras dos alto-falantes da matriz, naquela hora matinal.

Angustura acorda-te para receberes, mais uma vez infausta notícia; nova que te sangrará como aquelas sete lanças, apunhalaram o Coração de Nossa Senhora das Dores – perdeste mais um dos teus filhos adotivos; Miguel Madeira não viverá mais entre teus irmãos; ele fora um cidadão exemplar, pai amoroso e extremoso avô, deixou mais uma grande ferida no seio da sociedade angusturense a sagrar. Todas as belezas das manhãs que Angustura se orgulha de possuir, se ofuscaram com as lagrimas que correram dos olhos angusturenses – prenuncio de corações feridos com o choque da notícia. 

Cabisbaixos, todos se recolheram ao recesso de seus lares dizendo: anteontem mesmo, vi-o, sentado no banco do Centro Telefônico, conversando com seus amigos e, satisfeito, correspondendo às saudações dos transeuntes – “boa tarde Miguel, que me diz do Porto Novo” – “sempre a mesma coisa – muito quente e tudo no mesmo lugar”.

Era assim que, mais de quarenta anos convivemos o Miguel do ônibus que nos deixou até a eternidade...
Miguel Madeira era natural de São Domingos do Aventureiro, nasceu em 1903 e era filho dos italianos Vicente Madeira e Angelina Lentino Madeira. Em Angustura, passou o resto de sua juventude, sua mocidade e parte de sua velhice; constituiu família casando-se com Maria do Rosário Couto (Niquinha), filha do português Alexandre Rodrigues Couto e de Luzia Lopes do Couto.

De seu casamento nasceram dois filhos: Wilson (Lêle), casado com Cely Vasconcelos Madeira; e Helenice, casada com José Francisco Ghetti.

Chegando a Angustura por volta de 1918, foi contratado pelo fazendeiro e engenheiro Dr. Pio Villela Pedras para trabalhar na construção da estrada que ligava Angustura até Além Paraíba. Logo após, montou uma empresa de ônibus que transportava pessoas e mercadorias juntamente com o seu irmão Antônio Madeira, uma linha que ligava Angustura até Além Paraíba e a outra linha que ligava Santo Antônio do Aventureiro até Além Paraíba. 

Foi contemplado com uma medalha, ao aposentar-se, por ter sido um dos primeiros motorista a carteira profissional do volante e pelas excelsas virtudes de bem servir às coletividades de Além Paraíba e de Angustura.  

  Estrada de Angustura por volta de 1918
Fonte: Adaptação do texto publicado na "A VOZ DE ANGUSTURA" – 30 de março de 1968

ANGUSTURA CENÁRIO DE NOTÁVEIS ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS

Por Mauro Luiz Senra Fernandes 




Ana Margarida, Silva Jardim e o filho mais velho, Antônio
Acervo; Coleção Artur Cerqueira
 
Esta pitoresca Vila, dotada de uma natureza privilegiada, clima salubre, água serrana e cristalina, hospitaleira e sorridente, gente laboriosa, simples e religiosa – é o berço de cidadãos que têm ocupado postos de destaque no Município, no Estado e na Federação, gerou para seu orgulho um dos maiores jurisconsultos do país, cujos tratados de Direito são conhecidos e servem de normas para muitas comarcas das Américas e da Europa.

Os diletos leitores sabem a quem me refiro – Nelson Hungria – Além de seus filhos eminentes Angustura de outrora foi palco de visitantes ilustres. Dentre estes, destaca-se em primeiro plano, a honrosa visita do grande republicano Silva Jardim, em 14 de março de 1889, poucos meses antes da queda do Império.

Antônio da Silva Jardim, o grande republicano fluminense, em 1882, com apenas dezenove anos colava grau em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Além de ser um tribuno de largos recursos retóricos, foi também um primoroso escritor.

Além de brilhantes discursos, pró advento da República, escreveu Silva Jardim: O General Osório, Critica de Escada Abaixo; Memórias e Viagens; Campanha de Um Propagandista; A Gente do Mosteiro; Idéias de Moço, etc.
  
Por ironia do destino, o extraordinário republicano, quando visitou a Itália durante uma erupção do Vesúvio, foi tragado impiedosa e tragicamente pelas larvas vulcânicas – dois anos antes de sua morte prematura ele visitou Angustura. 

Angustura foi no passado cenário de notáveis acontecimentos históricos.

 
Dr. Nelson Hungria


Fonte: A Voz de Angustura - texto adaptado do Professor J.B. Vidal