Por Mauro Luiz Senra Fernandes
Rua Barão de Guararema, em São José
O Transporte Urbano em Além Paraíba
“A partir de 1890, foi instalada uma linha de bondes puxados a burro que saía de Porto Novo do Cunha, passando pelas Oficinas (Vila Laroca) com destino a São José. Vinha catando gente pelas ruas que enchia seus bancos e pagando 400 réis pelo trajeto. Os burros iam puxando devagarinho o bonde pesado de passageiros. Na altura da Granja, o cocheiro do bonde fazia a cobrança dos passageiros e, lá, eram trocados por outra parelha (Esmeralda e a Berlinda eram trocadas pela Dindinha e Isolda) na volta para São José”.
Adaptação do texto de Nestório Valente no Jornal Além Parahyba - 1925
O Bonde de Tração Animal
Quando Além Paraíba não ostentava ainda magníficos palacetes, artísticas fachadas e redolentes jardins, quando casinholas trepavam pelas encostas íngremes da morraria, já o Comendador Affonso D’Ângelo Visconti, observando que os rudimentares veículos do Luca e do Fidelis, morosos e fatigantes, não satisfaziam a nossa população, se empenhava com ardor pela organização de uma empresa de transporte, o que conseguira, vencendo todas as dificuldades que só não estorvam ou entibiam os ânimos arrojados e resolutos.
Pioneiros em transporte coletivo Lucas e Fidelis que, em 1886, com seus parcos recursos, iniciaram neste ramo de negócio em Porto Novo do Cunha, através de desengonçados troles puxados a burro. Esses veículos rudimentares prestavam um serviço moroso e fatigante, já não satisfazendo àquela época a população. O Comendador D’Ângelo Visconti, homem inteligente e de muito tirocínio comercial, rico hoteleiro na cidade do Rio de Janeiro, e aqui também proprietário, espírito aventureiro e habilidoso aglutinador de interesses econômicos, partiu para a incorporação de uma empresa com a finalidade de modernizar aquele transporte. Chamou amigos, que sabia não temerem dificuldades, arrojados como ele, resolutos, e propôs-lhes o negócio. Entre estes, então, se encontrava o Felippe Bacelar Fontenelle.
Em 1889, Affonso D’Ângelo, sempre na vanguarda do movimento, fazia o seguinte apelo aos subscritores de ações:
“Empresa Ferro Carril Além Parahyba – pede-se aos senhores subscritos de ações, àqueles que ainda não entraram com as quantias subscritas para essa empresa, tenham a bondade de fazer o pagamento da primeira prestação de 10$000 por ação, na agência do Banco Territorial Mercantil de Minas, a fim de incorporar-se até 5 de novembro próximo a sociedade. São José de Além Parahyba, 26 de outubro de 1889 – Affonso d’Angelo – o incorporador.”
Naquele mesmo ano de 1889, no Paço da Câmara Municipal desta cidade e Comarca de Mar de Espanha, presentes os acionistas da empresa, Affonso D’Ângelo disse-lhes que havia convocado para constituição definitiva da Companhia, e lhes ofereceu os estatutos pelos quais essa deveria se reger. E ao apelo para elegerem os seus administradores, foram escolhidos os senhores Capitão Vicente Mendes Ferreira (Capitão Mendes), 355 votos; Dr. Joaquim Canuto de Figueiredo, 345 votos; Capitão Francisco Júlio dos Santos Sobrinho, 340 votos; Dr. Francisco Salles Marques, 40 votos; Antônio José Herdy, 35 votos; e Dr. Francisco B. Teixeira Duarte, 10 votos. Total de 1.125 votos.
Foram eleitos, pois, diretores da Ferro Carril os cidadãos Capitão Vicente Mendes Ferreira, Dr. Joaquim Canuto de Figueiredo e o Capitão Francisco Júlio dos Santos Sobrinho.
Aduzindo razões de escusas, pediram que a Assembléia os dispensasse desses cargos e agradeceram a confiança neles depositada os cidadãos Vicente Mendes Ferreira e Francisco Júlio dos Santos Sobrinho. Concedida as escusas, discursaram nessa ocasião os Drs. Canuto de Figueiredo e Luiz Barbosa da Gama Cerqueira, sendo, na mesma ocasião, eleitos membros da diretoria os Srs. Francisco Salles Marques, Antônio José Herdy e Francisco B. Teixeira Duarte.
Para presidente da assembléia geral foram eleitos o Capitão Vicente Mendes Ferreira e José Thomaz Pimentel Barbosa e, para secretários, o Dr. Luiz Barbosa da Gama Cerqueira e o Capitão Egydio Cezar F. Lobo.
Capitão Vicente Mendes Ferreira - maior acionista da Empresa Ferro Carril Além Parahyba
Os acionistas da Ferro Carril que mais títulos adquiriram foram os seguintes: Banco Territorial e Mercantil de Minas, 50 ações; Vicente Mendes Ferreira, 50 ações; Affonso D’Ângelo, 20 ações; Luiz Augusto Gomes, 20 ações; Cornélio G. Villela Bueno, 10 ações; Francisco B. T. Duarte, 10 ações; Francisco Cesário de F. Côrtes, 10 ações; Francisco de Assis Teixeira, 10 ações; Francisco Garcia da Rosa, 10 ações; Francisco Júlio dos Santos Sobrinho, 10 ações; Dr. Francisco P. Tavares, 10 ações, José Augusto de F. Côrtes, 10 ações; José Thomas P. Barbosa, 10 ações; Luiz Alves Banho, 10 ações; Luiz de Souza Breves Sobrinho, 10 ações; Manoel G. de F. Côrtes, 10 ações; Manoel J. Lopes de Almeida, 10 ações; Manoel Mattos Gonçalves, 10 ações; Marciano Teixeira Marinho, 10 ações; Mathilde Herdy de Oliveira, 10 ações; Miguel Laroca, 10 ações; Valeriano M. M. Costa Reis, 10 ações e Francisco L. dos Santos Werneck, 10 ações.
Soma: Ações 380 e entradas de 3:800$000.
Daí por diante a empresa passou por muitas alterações na sua estrutura. Foi encampada pelos senhores Mauricio Francisco de Souza, Miguel Laroca e Nicolau Taranto; retirando-se o Dr. Mauricio Francisco de Souza e Miguel Laroca, associando-se a Nicolau Taranto os senhores Herculano Couto e Severino Martins, e finalmente dissolvida, ficando seu ativo e passivo com o Capitão Nicolau Taranto até 13 de janeiro de 1923, data em que foi a empresa adquirida pelo sr. Adão Pereira de Araújo que resolveu transformar a tração animal em tração elétrica.
Adaptação do texto de Nestório Valente no Jornal Além Parahyba - 1925
O bairro operário das "Oficinas" - atual Vila Laroca. "Os bondes puxados a burro que saía de Porto Novo do Cunha, passando pelas Oficinas (Vila Laroca) com destino a São José..."
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Dizer que você me faz ter orgulho de ser alemparaibana é bobagem. Sou suspeita pra isso, fã de carteirinha, talvez uma das fundadoras do fã-clube...rs.
ResponderExcluirAcho que todos os alemparaibanos deveriam se orgulhar de ter um profissional como você, que nos presenteia com coisas belíssimas e de um cuidado que só você mesmo, zelando por nossa história.
Obrigada mais uma vez, seu blog está de uma beleza ímpar, como tudo que faz.
Beijo!
Estou há tempos procurando identificar os antepassados do Capitão Vicente Mendes Ferreira, para ver se existe alguma ligação com a família que eu pesquiso. Por acaso você, Mauro, saberia alguma coisa sobre ele?
ResponderExcluirEliane
Meu nome é Helio Dansa. Tenho 76 anos de idade, nascido na cidade do Rio de Janeiro; sou bisneto materno do Comendador Affonso D'Angelo Visconti, cujo filho Alberto, por ter-se casado com a caboclinha aos 17 anos foi deserdado. Tenho tudo documentado. Já não aspiro a bens materiais, mas estando a estudar minha herança genética, segundo a qual meu nome completo deveria ser
ResponderExcluirHelio D'Angelo Visconti Dansa Prat, aceitaria trocar informações com alguém que possa confirmar ou refutar minha descendência materna, que remonta a Milão, onde um ascendente remoto administrou a construção do Duomo, tendo ganho por isso o título de visconde (ti ). Grato, HD