domingo, 9 de maio de 2010

IGREJA MATRIZ DE SÃO JOSÉ E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Por Mauro Luiz Senra Fernandes




Desde o surgimento de nossa colonização aqui no “Sertões do Leste”, a Igreja Católica esteve presente em todos os momentos. Dentre os pioneiros estava o Padre Miguel Antônio Paiva que recebeu sua sesmaria no “Sítio das Três Barras” e que foi vendida, mais tarde, a Theodoro de Faria Salgado.


Conforme cita Falabella em “Os Sertões do Leste”, Padre Paiva deixou como herdeiro o Cap. Manoel de Almeida, contra quem Faria Salgado, em 1828, ajuizou uma questão judicial após o falecimento de Paiva.

A cidade foi crescendo, paralelamente a Igreja também, desde o surgimento da “Capelinha dos Índios” que Padre Paiva construiu em 1819 às margens do rio Limoeiro (Oficinas), até a finalização da obra da Matriz de São José em 1883, quando foi entregue pelo Comendador Simplicio José Ferreira da Fonseca – provedor da obra, ao Padre João Antônio da Silva Barriga.

Desde sua fundação, a Igreja Matriz vem sofrendo várias alterações que descaracterizou a bela obra original, isto é, tanto no seu interior quanto em sua volta.

Na parte externa, foi construído o “Salão Pio Doze” que não respeitou o estilo da Matriz. Atualmente, ele transformou-se num confortável salão que sufocou mais ainda a beleza da Matriz.
Internamente, por uma necessidade de um prédio maior, “puxados” foram feitos, misturando ainda mais seu estilo (lajes, mudança de pisos, etc.).

O objetivo deste texto é de promover uma discussão tardia sobre o destino do prédio da Matriz de São José, já que ela não é oficialmente reconhecida como “Patrimônio Histórico Municipal”.
É muito complicado levantar este assunto em Além Paraíba, pois nossos cidadãos não dão tanta importância no que se refere à preservação histórica ou parece, até mesmo, um “tabu” tocar em tal assunto e pouco de concreto acontece neste campo.

Mesmo assim, temos que trazer para a sociedade alemparaibana esta questão, buscando um entendimento e um amadurecimento, onde algo a favor possa ser feito.

Em 1922, os paulistas promoveram a Semana da Arte Moderna que buscava novos rumos para a arte brasileira. Ironicamente, foram esses intelectuais paulistas - “modernistas” que descobriram o barroco brasileiro. Mário de Andrade e seus amigos fizeram uma “expedição” a Minas, descobrindo suas riquezas e as raízes de nossa identidade. Não passava antes de uma velharia desprezível o que os paulistas reconheceram como um patrimônio artístico inestimável.

O barroco brasileiro é, no mínimo, tão atraente quanto o melhor similar europeu, criando um extraordinário potencial turístico. É parte do capital que faz rodar a indústria do turismo.
Alguns saíram comprando sofregamente. Era o ciclo das galinhas-mortas, por serem as peças consideradas sem valor ou interesse. Objetos, hoje em museus, estavam abandonados ao relento. E quantos terão ardidos como lenha? Uma senhora quis comprar uma cama que estava servindo de poleiro de galinhas, uma peça comparável às dos melhores museus. Mas, a dona se recusou a cobrar, pois sequer servia para queimar, tão dura era a madeira.

Amorosas igrejas e capelas barrocas eram demolidas e substituídas por monstrengos de cimento. Comunidades e padres ficaram felizes em trocar as velhas imagens de madeira, consideradas grotescas e mal feitas, por novas de gesso – que tem tanto valor artístico quanto bonecas de camelô. Assim, foi salvo nosso patrimônio colonial que, na época, era lixo... ou quase. Hoje, vale uma fortuna incalculável!

A Igreja Matriz de São José não é um estilo barroco, mas faz parte de um período histórico importante para o nosso município. Foi construída no apogeu da economia cafeeira de nossa região e na época de nossa emancipação política e, sendo assim, ela deveria ser considerada patrimônio histórico de Além Paraíba.

Discutir sua preservação é muito importante pois mostra o grau de desenvolvimento, cultura, amadurecimento e sensibilidade histórica de nossas lideranças e de nosso povo.

Interior da Igreja Matriz de São José, nos anos de 1930

Interior da Igreja Matriz de São José, na atualidade.

Um comentário:

  1. Olá Mauro, ficou muito bacana o seu blog!É importante que as pessoas da cidade saibam sua historia e aprendam com ela. Parabéns!

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