terça-feira, 23 de março de 2010

COMENDADOR SIMPLÍCIO JOSÉ FERREIRA DA FONSECA E A IGREJA NOSSA SENHORA DE BELÉM

Por Mauro Luiz Senra Fernandes




Igreja Nossa Senhora de Belém

Simplício José Ferreira da Fonseca, foi um homem pioneiro. Após quase duzentos anos de seu nascimento, seu nome ressurge num projeto tão desenvolvimentista como a Hidrelétrica de Simplício.
A localidade de Simplício antes se chamava Conceição e, em homenagem a esse pioneiro, passou a se chamar Simplício.

Antes de ser construída a Estação Ferroviária, essas terras pertenciam a esse grande cafeicultor. Fazia parte das terras da Fazenda Barra do Peixe que, na divisão dos bens entre seus filhos, passou a se chamar Fazenda Antonina, em homenagem à Antonina Alves Banho da Fonseca, esposa de seu filho Simplício Ferreira da Fonseca Filho (Simplicinho).

Com a chegada da ferrovia, Simplício fez a doação de dormentes para a estrada de ferro desde a cidade de Três Rios até Porto Novo (Além Paraíba). Como retribuição, recebeu a homenagem de Estação de Simplício.

Em torno da estação formou-se uma vila e, por ser muito religioso, construiu também nessa vila a bela e imponente Igreja Nossa Senhora de Belém que, lamentavelmente, foi demolida após longo período de completo abandono, na época do primeiro projeto da Usina Hidrelétrica de Simplício.

No dia 14 de outubro de 1898, a igreja foi benta solenemente pelo Revmº Vigário Padre Carloto Fernandes da Silva Távora, tendo sido a primeira missa celebrada nesse mesmo dia pelo Revmº Vigário da localidade fluminense de Sapucaia, Padre Antônio Francisco de Mello, servindo de acólitos os Revmos Vigários Padre Carloto Fernandes da Silva Távora e Padre Loureço Musacchio que, durante o sacrifício, cantaram as orações próprias pelos mortos. Depois do Vigário Mello, também celebrou em sufrágio da alma do cidadão Simplício José Ferreira da Fonseca, o Vigário Carloto Fernandes da Silva Távora. No mesmo dia, logo após as duas missas foram batizados os filhos dos senhores Capitão Francisco José Gonçalves, Francisco Nunes Muniz, Agente da Estação, Tenente Joaquim Martins Ferreira e de Francisco Ferreira da Silva, Agente do Correio.

A padroeira, cuja bela imagem esculpida em madeira, ficava no altar-mór. À direita, a imagem de São Sebastião e à esquerda a de São José, ambas também esculpidas em madeira.

O jornal “A Gazeta de Porto Novo”, do dia 20 de outubro de 1898 – quinta feira, reproduziu a inauguração da Igreja Nossa Senhora de Belém: “Requiescent in Pace...” foram as primeiras frases plangentes dos ministros de Deus, que reboaram pelo majestoso e belíssimo recinto da nova Igreja de Nossa senhora de Belém, no dia 14 do corrente, logo depois das formalidades litúrgicas das bênçãos das imagens e da elegante e bem construída igreja, levantada naquela estação.

“Et Lux Perpetua Luceat Eis...” foram as respostas que todos os peitos se fizeram ouvidas e que, por certo, chegaram àqueles cuja memória tornava-se naquele soleníssimo ato como que materialmente presente!

“Requiescent in Pace... Requiem Oeternam Dona eis Domine...” foram as vozes dos representantes de Deus confundidas com às daqueles povos agradecidos que, no meio do espesso fumo do incenso, encheram de harmonia e de encantos sobrenaturais o ambiente daquele esplendoroso santuário de amor, de caridade e santidade.

Descanso, luz, paz, honra e gloria a grandiosa alma do prestante cidadão Simplício José Ferreira da Fonseca... foram as súplicas e os votos de todos apresentados na hora sacrossanta da Eucaristia onde, pela primeira vez descia do céu à terra, o Deus sacramentado dos cristãos! A esse Deus de justiça e de bondade, tão pomposamente abrigado sob os tetos daqueles que, há quatro anos fecharam os olhos à luz deste mundo, não podia ter sido indiferentemente às preces que lhe eram dirigidas, para não ter derramado no coração da virtuosa esposa e dos dignos filhos, o bálsamo da convicção consoladora, de que o seu prestigioso chefe, estava ao seu lado, recebendo a recompensa plena de tão inestimável e preciosa obra, em favor da propagação da doutrina sublime que teve por epílogo o Martírio da Cruz e onde cresceu e floresceu a árvore bendita da religião, em prol da qual derramou a última gota de sangue!

Sua digna esposa e filhos entenderam e com muita justiça que os primeiros brados ali levantados deviam ser pelo repouso eterno de seu respeitabilíssimo chefe, fundador daquele grandioso templo, onde lhes deixara ele o signo luminoso e edificante de sua ardente fé e o sinete indelével e muito significativo do seu entranhado amor pelo solo onde se imortalizou, levantando uma povoação, em cujo seio, deixou bem alto erguido, o símbolo de suas elevadas crenças católicas e com as quais edificantemente morreu abraçado.

... Convencidos estamos de que os sucessores desse grande cidadão, serão os dignos continuadores do progresso e do engrandecimento da Estação da Conceição, honrando nesse particular, o nome que lhes legou o venerado chefe.

Ainda que, de caráter íntimo e familiar, a solenidade daquele dia, pertencesse ao povo, e esse povo não cruzou os braços e nem ficou indiferente ao que ali se passou, espontaneamente apresentou-se e o templo foi pequenino para contê-lo.

Quem estas linhas traça, lá também se achou para cumprir um dever de amizade para com um distinto membro da família do venerado cidadão, de saudosa memória, e representar esta falha que, na Estação da Conceição, vê um pedaço abençoado do torrão do município de São José de Além Parahyba, por cujo adiantamento intelectual e material se bate.

A redação desta folha não podia, com efeito, deixar de ali achar-se e nem deixar passar despercebido um acontecimento e renome desta zona, brindada liberalmente com um sólido edifício, que atestará aos vindouros o seu adiantamento intelectual e moral. O mais belo exemplo de desprendimento pelos bens terrenos, deixado por um respeitável concidadão no último quartel de sua vida, burilava-se naquele dia em letras indeléveis nas páginas de nossa história”.

A Igreja Nossa Senhora de Belém
O Coro e o Altar na época da demolição




Estação de Simplício ou da Conceição


Um comentário:

  1. Meu pai, Evanio Nogueira Machado, morou em Simplício desde 1923 atē 1929 quando o meu avô Joaquim Vieira Machado, trabalhava na fazenda, viera a falecer.

    At.

    Evanio Tavares Machado

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