Dr. Ladário de Faria
Aquele magro estudante de Medicina, alto e simpático, ao passar certo dia pelas portas do Asilo São Luiz Rei, no Rio de Janeiro e distinguindo, através da grade, uma quantidade enorme de mulheres e homens idosos, viu-se tomado da sensação de imensa dó, de enorme piedade por aqueles e outros pobres infelizes em condições iguais, a tantos outros espalhados pelos quatro cantos da terra.
E jurou para si mesmo:
-“Que Deus não me deixe morrer antes de ter construído um asilo, uma casa, onde possam se abrigar esses mal aventurados que chegam ao fim da existência sem conforto, agasalho ou uma palavra amiga. Juro que esta há de ser minha cruz. Embora pesada, não descansarei enquanto não levá-la ao Horto”.
Quis o destino que esse estudante concluísse o curso de medicina e viesse morar em Além Paraíba, aqui instalando seu consultório, fazendo sua clientela, despertando as atenções gerais para suas virtudes de profissional, conhecedor da “arte de curar”, sendo sua carreira enveredada, também, pela carreira política, ocupando o cargo de Prefeito Municipal por mais de uma vez.
Dr. Antônio Augusto Junqueira quando à frente do Executivo, convidou para que ele fosse chefe do Posto de Profilaxia, oportunidade em que pôde demonstrar sua disposição de extinguir com focos de sujeiras por todos os cantos da cidade, em profissão de fé digna de um sanitarista de renome.
Muita gente zangou-se quando desencadeou terrível campanha contra porcos criados até dentro de casa e nas zonas residenciais de Além Paraíba, conseguindo levar a cabo sua tarefa, melhorando em muito o estado higiênico de nossa “urbs”.
Porém, não esqueceu da promessa a si mesmo feita. E, ao chegar aqui, encontrou já os princípios da instituição com que sonhara quando estudante. O número de mendigos era grande, causando o mais justo constrangimento a quantos circulavam e viviam por essas plagas. Porisso, falava-se na construção desse asilo, sem que os objetivos entrassem no terreno prático.
Até que, no dia 13 de junho de 1921 – Dia de Santo Antônio – houve uma grande festa junina na Fazenda da Barra do Peixe, então propriedade do Coronel Antônio Martins de Lima Castello Branco, genro do Comendador Simplício Ferreira da Fonseca, grande amigo do Dr. Ladário.
Formaram-se várias mesas de pôquer, em uma das quais estavam sentados o Coronel Augusto Perácio ¬– comerciante e fazendeiro no Estado do Rio – o próprio Ladário e um engenheiro do Estado a serviço de nossa Zona.
Perácio teve a sorte de empunhar o jogo maior, conseguindo abocanhar a expressiva quantia de 3.000$000 (três mil contos de réis).
Ladário não perdeu o ensejo, pedindo ao amigo a quantia para criar um asilo. Perácio, já sabendo os ideais do amigo, entregou-lhe a polpuda soma ganha no jogo.
Fulminante resultado, numa festa em que se reuniam tantas personalidades destacadas de Além Paraíba, ninguém negou a auxiliar Ladário de Faria que pôde, assim, arrecadar nada menos que 9.000$000 (nove mil contos de réis).
No dia subseqüente, animado com as ocorrências na Fazenda da Barra do Peixe, o Dr. Ladário de Faria conversou com o Coletor Federal, Raul Belo Pimentel Barbosa e o Promotor de Justiça Aristóteles Lobo, prometendo ambos cooperar com o facultativo.
Surge o problema da localização do asilo. Raul Belo, porém, procura Joaquim Carneiro júnior, seu cunhado e filho de Dona Ana Carneiro, proprietária de uma casa situada no Morro do Carneiro, bem em frente à colina do hospital, além de mais três moradias abaixo.
O conjunto é vendido pela importância de 9.000$000. Não satisfeito, Joaquim Carneiro Júnior – “Carneirinho”- doa todo mobiliário, roupas de cama, louças e bateria de cozinha, possibilitando, desse modo, o imediato funcionamento da instituição.
No dia 1º de janeiro de 1923, às duas horas da tarde, no próprio edifício da entidade, foi empossada a primeira diretoria, assim composta: Dr. Ladário de Faria - Presidente, Joaquim Cerqueira Porto - Vice, Dr. Aristóteles Lobo - Secretário, Coronel Raul Belo Pimentel Barbosa - Tesoureiro. Também foi organizado o seguinte Conselho Consultivo: Capitão Alfredo Augusto do Amaral, Álvaro Antunes, Álvaro Boechat, Antônio Augusto de Azeredo Coutinho, Dr. Antônio Alves Taranto, Antônio Gonçalves Fernandes Timbira, Antônio Ribeiro Ferreira, Cesar Corrêa da Cruz, Delfino Rocha, Dr. Edelberto Figueira, Ernesto Pereira Antunes, Fausto Gonzaga, Dr. Jarbas Pires Marques, Cônego João Batista da Silva, Jorge Elias Sahione, José de Carvalho Marques, José Augusto Domingues, José Antônio Varela, José Antônio Marques, José Teixeira Bastos, Dr. Joviano Rezende, Levi Reis Rodrigues, Lineo Antunes Vieira e Nestório Valente.
Desde às duas horas da tarde, o edifício do Asilo, que por sinal fora residência de Dona Ana Carneiro, se achava de repletos de convidados.
Pouco antes das três horas, chegou a Sociedade Musical Sete de Setembro, toda uniformizada.
Por ocasião do ato inaugural, já estavam confortavelmente instalados vários asilados, variando de idade mas numa média de 70 anos quase todos, e todos paupérrimos, mas felizes pelo abrigo que lhes garantia uma confortável velhice, protegidos por pessoas caridosas, pela segurança da construção e pelo conforto que o mesmo lhes oferecia.
Feliz da vida, Ladário de Faria ao contemplar tudo aquilo, lembrava-se de seu tempo de estudante no Rio de Janeiro, quando imaginava ver realizado um sonho – igual ao do magnífico São Luiz Rei – que, agora, se concretizava.
Fonte: Adaptação do texto de Octacílio Coutinho
Inauguração da Nova Sede do Asilo Ana Carneiro
Na tarde do dia 20 de abril de 1958, às 16 horas, na Vila Caxias, foi inaugurada a nova sede do Asilo Ana Carneiro com a presença de autoridades e do povo.
No ato Inaugural, foi benta e entronizada uma imagem de Santo Antônio, no pátio interno daquele asilo, cuja cerimônia religiosa foi presidida pelo Padre Cirilo Lubers. Em seguida, o Padre Humberto leu para os presentes um relatório referente à prestação de contas da comissão festiva e agradeceu, em nome do Asilo Ana Carneiro, os relevantes serviços prestados àquela casa, pela Srta. Maria José Araújo, pelo muito que fez pelos velhinhos asilados. Igualmente citou os nomes de Heitor Corrêa Rodrigues, Presidente do Asilo, bem como: Aquilles Binato, pertencente à Diretoria, que de sua tenacidade resultou aquela obra magnífica. Estendeu os seus agradecimentos aos Srs. Gabriel Araújo e Manoel Sapucaia e bem assim à Dona Odáia, a qual vinha prestando os seu serviços ao asilo há longos anos, com devotamento invulgar aos velhinhos ali recolhidos.
O Asilo Ana Carneiro é um estabelecimento que deve ser visitado por todos, para que se sinta o quanto é necessário ajudá-lo, pois ali vamos encontrar somente aqueles que deram tudo na vida e dela receberam o desengano, o abandono. Olhemos pois, para aqueles infelizes, amenizando os seus dias futuros.
Boa noite Prof. Mauro!
ResponderExcluirAchei muito interessante seu blog e culturalmente enriquecedor !!!
Estas fotos antigas de pessoas que foram publicadas.... onde posso acha-las? tem um endereço na net onde eu possa visualizar rosto e os nomes das pessoas daquela região?
Moro fora do país e procuro loucamente imagens e dados sobre meus ancestrais Perret que viviam na região de Sapucaia e Cantagalo...
Agradeço sobremaneira qualquer informação.
Um abraço, Ana Weber amweber13@hotmail.com