Por Mauro Luiz Senra Fernandes
UM CASO DE RESISTÊNCIA DO POVO NEGRO EM ALÉM PARAÍBA QUE A MAIORIA DOS ALEMPARAIBANOS NÃO CONHECEM.
A resistência dos escravizados foi uma resposta à escravidão que foi uma instituição presente na história do Brasil ao longo de mais de 300 anos.
Engana-se, porém, quem acredita que os africanos foram escravizados passivamente, pois, apesar da falta de registro, os historiadores sabem que inúmeras formas de resistência dos escravos foram desenvolvidas.
A resistência à escravidão por meio das revoltas, não visava, exclusivamente, a acabar com o regime de escravidão, mas, dentro do cotidiano dos escravos, poderia ser utilizada como instrumento de barganha. Sendo assim, essas revoltas dos escravos buscavam, muitas vezes, corrigir excessos de tirania dos senhores, diminuir o nível de opressão ou punir feitores excessivamente cruéis.
Uma vez terminado o tráfico intercontinental de escravos, a reposição dessa mão de obra estava comprometida, ou melhor, eliminada. Seu preço subiu com rapidez, e nas províncias do sul, no Vale do Paraíba, a expansão do café exigia dos senhores maior quantidade de trabalhadores, de modo a produzir mais para ganhar mais, sendo o produto perecível e de cultivo delicado. Rapidamente o tráfico inter-regional de escravos tornou-se grande negócio, tanto para quem vendia – pequenos proprietários em decadência –, quanto para quem comprava – donos de grandes faixas de terras e escravarias, que precisavam de mais trabalhadores para aumentar a sua produção.
A Fazenda Gironda adquiriu uma grande quantidade escravos vindos da Província de Pernambuco, que não se adaptaram com a forma como eles eram tratados pelos seus novos proprietários – os Teixeira Leite, em 1874, uma revolta sangrenta aconteceu na propriedade.
Segundo uma fonte oral, um dos integrantes da família escravocrata foi morto e o teu corpo foi esquartejado pelos revoltosos.
Uma fonte:
“A frequente reprodução de atentados cometidos por escravos contra a pessoa de seus superiores tem por mais de uma vez preocupado o espírito público, e hoje, em consequência de recentes e lutuosos acontecimentos, está prendendo a atenção de quase toda a imprensa paulista. O assunto é gravíssimo. Não aparece, entretanto divergência de opiniões. Também sabemos, segundo um ofício dirigido à presidência da província de São Paulo, que uma diligência de trinta praças fora enviada para combater grande insurreição de escravos em Bananal, em 24 de dezembro de 1872. No entanto, nenhum indício de insurreição fora encontrado pelos praças, mesmo com as frequentes denúncias dos senhores locais, que havia gerado o envio da tal força policial. Podemos pensar que, quando os praças lá chegaram, os escravos voltaram a trabalhar normalmente, sem que fosse preciso um conflito físico para que a ordem fosse restabelecida? Bem, ao menos fora isso que aconteceu quando dona Maria Guilhermina Cândida Teixeira Leite pediu, em 21 de março de 1874, que as autoridades policiais da província de Minas Gerais a ajudassem a retomar o controle de sua fazenda, chamada Gironda, em São José de Além Parahyba -Mar de Espanha. Seus escravos a haviam expulsado, tomando conta da produção, “desfeitorizando” o trabalho, reescalonando as jornadas, assim como os dias de descanso. As autoridades policiais acharam perigoso demais para a “ordem pública” reprimir com força física tal situação, e queriam evitar que escravarias de fazendas próximas fossem contagiadas por uma “onda negra” de proporções alarmantes. A recomendação, então, foi de que a senhora fosse à fazenda fazer o que pudesse para “encerrar a perigosa insurreição”, acompanhada de pequena escolta local liderada pelo delegado de polícia Joaquim Barbosa de Castro – Barão de Além Parahyba. As instruções eram “que entrasse logo em exercício e entendesse sobre o melhor modo de ser mantida a ordem pública na diligência que este juízo tem de empreender para restituir a posse da fazenda Gironda à dona Maria Guilhermina Teixeira Leite”. Temos a informação de que os senhores de Mar de Espanha já vinham sofrendo com a dominação da atividade produtiva pelos escravos, em algumas fazendas, desde pelo menos 1869, quando 12 escravos controlaram por vários meses, armados, a fazenda Santa Ana da Barra, de um tal senhor Carneiro.”
Bumerangue Encapsulado – Luiz Alberto Couceiro