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quinta-feira, 29 de julho de 2010

O AERO-CLUB DE ALÉM PARAÍBA

Por Mauro Luiz Senra Fernandes




Trinta e nove anos após a consagração do 14 Bis em Paris, Além Paraíba seguiu o sonho de Alberto Santos Dumont, inaugurando o seu Aero-Club na Ilha do Lazareto e, após esse dia, o céu de nossa cidade nunca mais foi o mesmo.
O coração alemparaibano bateu forte pela conquista do espaço, vibrou pela realização do ideal que o gênio Santos Dumont infundiu nos sentimentos patrióticos de nossa gente. E quando se anunciou no país os primeiros toques da Campanha Nacional de Aviação, ao alvorecer da nova época de um Brasil potencialmente aeronáutico, todos - moços e velhos, homens e mulheres, sentiam que era chegado o momento supremo, a hora se competia concretizando o ideal.
Na manhã luminosa de 25 de fevereiro de 1945, o avião “João Urupúkina”, pilotado pelo Sr. René Valverde, alçou o seu primeiro vôo oficial, levando a bordo o prefeito Luiz de Marca, regressando ao campo após algumas evoluções sobre a cidade.
O memorável 25 de fevereiro foi encerrado com o banquete oferecido ao Sr. Virgílio Costa, no Magnífico Hotel.


Uma Fonte:
Eduardo Franco (Monego) - 1977 - “O nosso piloto”

A idéia do aero-club foi do Virgílio Costa que já faleceu. Um dia ele chegou pra mim e disse: - “Olha Monego, eu vou criar um aero-club em Além Paraíba e o local escolhido para o campo será a Ilha do Lazareto”. Eu adorei a idéia, pois sempre gostei de aviação e lhe assegurei no momento a minha colaboração no empreendimento. Àquela época existia a Campanha Nacional de Aviação que era presidida por Assis Chateaubriand e incentivava a criação de aero-clubs no país e a formação de novos pilotos. Pois bem: a Ilha do Lazareto era um verdadeiro matagal, tendo apenas uma casinha na margem do rio e não havia ponte - nós atravessávamos as máquinas e o material para a construção do campo e do hangar numa balsa, depois os cabos que sustentavam a balsa arrebentaram e ficamos atravessando só de bote. Mais tarde, consegui do Ministério da Aeronáutica, a atenção dos direitos alfandegários para a vinda dos cabos de aço e construímos a ponte pênsil que está aí até hoje. Os recursos para esta ponte foi contribuição de muita gente, mas o deputado Euvaldo Lodi nos auxiliou muito na sua construção e o projeto foi feito pelo Dr. Alfredo Funchal Garcia.


Como vocês podem constatar, um rio não era obstáculo à tenacidade dos homens daquela época para alcançar seus propósitos. O hangar que abrigava os dois aviões doados pela Campanha Nacional de Aviação foi construído pelo dinâmico empresário da época, José Mercadante, enquanto a sede do aero-club situava-se na rua Marechal Floriano e teve como presidentes os senhores Virgílio Costa que foi o fundador e idealista, Waldyr Vilela Pedras, Eduardo Franco, Heimar Côrtes, Oded Tavares e Abílio Salomão. O aero-club teve uma vida efêmera, de 1944 a 1953.

Os que tiraram brevê aqui fomos eu, Newton Perácio, Afrânio Cerqueira, o Murilo Abreu que era um engenheiro da Ligth e José Gastão Vilela Junqueira. O Virgílio Costa era um entusiasta da aviação mas nunca quis aprender.

Um avião caiu comigo no dia 21 de outubro de 1951. Nós estávamos entrando na Semana da Asa e, naquele Domingo, faríamos por isso uma exibição comemorando o fato. Nós tínhamos resolvido que faríamos a caça ao balonete que consiste em encher uma bola de gás e soltar enquanto o avião - que fica no ar já esperando - vai procurar estourá-la com a hélice do avião, no menor tempo possível. Eu fui testar um avião que já havia apresentado defeitos (havia falhado o motor três vezes comigo) mas a gente nunca acredita no insucesso e, nas três vezes eu havia contornado a situação. Pois bem, mandei que soltassem o balonete que ganhou altura com muita facilidade, tentei furá-lo e o defeito apareceu. Resolvi então descer e quando inclinei a asa e acelerei, o avião “pifou”, rodou em parafuso e veio caindo, até a altura de 80 metros. Tentei tirá-lo do parafuso, depois vi que era impossível. O avião caiu de bico sobre a ilha onde localizava-se o campo de pouso, meu corpo afundou o painel de instrumentos e foi parar em cima do motor. Estive sem sentidos no hospital durante uma semana e, em conseqüência, afundei o lado esquerdo do rosto perdendo a visão.

Apesar de ter prometido à minha família que não voltaria mais a pilotar, sessenta dias após minha queda, o engenheiro Murilo Abreu que já havia saído de Além Paraíba e estava na Usiminas, trouxe um avião americano para eu testar. Após enganar o pessoal, saí de casa às escondidas e logo depois estava pilotando mas, como eu gostava de fazer acrobacias, fui logo descoberto por algumas pessoas que avisaram na minha casa e, quando desci, encontrei um recepção não muito amistosa e a pedido da minha família nunca mais voltei a voar, mesmo porque a perda de uma vista me eliminava para o exercício da pilotagem.
Esse negócio de falar que eu passava com o avião debaixo da ponte de Porto Novo não é verdade; é que eu sempre passava tocando de leve a ponta da asa nas águas e quando estava bem próximo da ponte eu subia para descer logo do outro lado, o que dava a impressão às pessoas que estavam distante de que o avião passava por baixo.

Tenho saudade da mocidade, como tenho do aero-club, pela muita camaradagem e pelos bons tempos da juventude.

Fonte: Adaptação do texto do Jornal Agora - 1977

Um comentário:

  1. Agradeço as palavras mencionadas sobre o meu avo COMANDANTE JOAO URUPUKINA.

    Joao Waack Urupukina

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