Por Mauro Luiz Senra Fernandes
Triste para toda
Angustura e muito mais triste para sua família, foi o alvorecer do dia 18 de
janeiro de 1968. As vibrações sonoras e cadenciadas dos sinos da matriz
despertaram Angustura e, seus moradores, em sobressaltos, pressurosos
acorreram-se às janelas, entreolharam-se, perguntando: quem teria morrido? E os
sinos continuavam lugubremente, seus dobres plangentes quando, feriu o espaço,
quebrando monotonia cadente dos sinos – a saudação cristã “Louvado Seja Nosso Senhor
Jesus Cristo” pelas ondas sonoras dos alto-falantes da matriz, naquela hora
matinal.
Angustura acorda-te
para receberes, mais uma vez infausta notícia; nova que te sangrará como
aquelas sete lanças, apunhalaram o Coração de Nossa Senhora das Dores –
perdeste mais um dos teus filhos adotivos; Miguel Madeira não viverá mais entre
teus irmãos; ele fora um cidadão exemplar, pai amoroso e extremoso avô, deixou
mais uma grande ferida no seio da sociedade angusturense a sagrar. Todas as
belezas das manhãs que Angustura se orgulha de possuir, se ofuscaram com as
lagrimas que correram dos olhos angusturenses – prenuncio de corações feridos
com o choque da notícia.
Cabisbaixos, todos se
recolheram ao recesso de seus lares dizendo: anteontem mesmo, vi-o, sentado no
banco do Centro Telefônico, conversando com seus amigos e, satisfeito,
correspondendo às saudações dos transeuntes – “boa tarde Miguel, que me diz do
Porto Novo” – “sempre a mesma coisa – muito quente e tudo no mesmo lugar”.
Era assim que, mais de
quarenta anos convivemos o Miguel do ônibus que nos deixou até a eternidade...
Miguel Madeira era
natural de São Domingos do Aventureiro, nasceu em 1903 e era filho dos
italianos Vicente Madeira e Angelina Lentino Madeira. Em Angustura, passou o resto
de sua juventude, sua mocidade e parte de sua velhice; constituiu família
casando-se com Maria do Rosário Couto (Niquinha), filha do português Alexandre
Rodrigues Couto e de Luzia Lopes do Couto.
De seu casamento
nasceram dois filhos: Wilson (Lêle), casado com Cely Vasconcelos Madeira; e
Helenice, casada com José Francisco Ghetti.
Chegando a Angustura
por volta de 1918, foi contratado pelo fazendeiro e engenheiro Dr. Pio Villela Pedras
para trabalhar na construção da estrada que ligava Angustura até Além Paraíba.
Logo após, montou uma empresa de ônibus que transportava pessoas e mercadorias juntamente
com o seu irmão Antônio Madeira, uma linha que ligava Angustura até Além
Paraíba e a outra linha que ligava Santo Antônio do Aventureiro até Além
Paraíba.
Foi contemplado com uma
medalha, ao aposentar-se, por ter sido um dos primeiros motorista a carteira
profissional do volante e pelas excelsas virtudes de bem servir às
coletividades de Além Paraíba e de Angustura.
Fonte: Adaptação do texto publicado na "A VOZ DE
ANGUSTURA" – 30 de março de 1968